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A Igreja, enquanto caminha, faz Missão
 
Há quem defenda a missão da igreja como algo, eu diria, sazonal. Ou seja, ela deve acontecer em um determinado tempo e por um período específico, e só. Sim, claro! Também entendo que a abordagem missionária em determinado contexto deve ter começo, meio e fim. Creio que isso é ponto pacífico. Mas isso não é o mesmo que dizer que um dado contexto geográfico específico jamais precisará da ação missionária da igreja, enviada ao mundo para proclamar a salvação em Cristo Jesus, depois de vencido aquele tempo.
 
Se olharmos, por exemplo, para o que aconteceu com a postura missional da igreja primitiva nos dois primeiros séculos, perceberemos isso. Todo o esforço empenhado pela igreja para alcançar a Ásia, Europa, Oriente Médio e África trouxe enormes resultados. A igreja sobreviveu à perseguição e aos falsos mestres, ela se estabeleceu, fincou suas raízes e floresceu. No entanto, com o passar do tempo, a exemplo do que ocorreu com o povo de Deus depois de haver entrado na terra prometida (Juízes 2.10-19), outras gerações vieram as quais não conheceram o Senhor, e tudo mudou novamente.
 
Um dos resultados da ação missionária da igreja dos primeiros séculos foi o avanço do cristianismo no norte do continente africano. Ele floresceu a ponto de produzir um refinado número de teólogos que influenciou, e até hoje influencia, positivamente, a vida da Igreja do Senhor espalhada pelo mundo. Tudo isso muito antes de qualquer iniciativa das missões modernas. Em artigo publicado no website da Wiley Online Library, Anna Djintcharadzé salienta que a igreja cristã africana, apesar de sua curta existência (menos de quinhentos anos de história) e da dura realidade que a cercou, contribuiu inclusive com a valiosa presença do que conhecemos hoje como os “Pais da Igreja”. Djintcharadzé assim descreve:
 
“Os Pais da Igreja africanos (Tertuliano, Minúcio Félix, Cipriano, Lactâncio, Optatus de Milevi, Agostinho) pertenciam à Igreja Africana de vida bastante curta dos primeiros cinco séculos do cristianismo. Era um solo principalmente arado por sofrimentos de perseguições e fertilizado por heresias e cismas ameaçadoras. De fato, foi no meio de toda a agitação desta região particular, onde o heroísmo de numerosos mártires brilhou mais gloriosamente, que a tradição patrística latina, embora cerca de cem anos mais jovem que a grega, se enraizou e floresceu em um modo bastante particular, estando tanto relacionado e distante da abordagem grega da Sagrada Escritura como do modo como ela deve ser vivida. Assim, os Pais [da igreja] originários do norte da África devem ser vistos como os fundadores da Igreja latina e sua própria espiritualidade.”
 
A Europa, que foi o grande berço das “missões modernas”, é hoje um enorme campo missionário árido e difícil de ser alcançado. Guardadas as devidas proporções, o mesmo pode-se dizer da América do Norte. Por quê? Porque outras gerações que não conheceram o Senhor substituíram as gerações passadas. Isso significa que, como igreja do Senhor, devemos fechar os olhos para a necessidade de ações missionárias nessas regiões, pelo simples fato de considerarmos que esses povos um dia já foram “alcançados”? Claro que não! E não se trata de um simples “re-evangelizar” ou “revitalizar”. Em casos como esses, precisamos considerar que estamos diante de gerações que nunca foram evangelizadas.
 
Isso, portanto, justifica a ação missionária da igreja no mundo como uma abordagem perenal, a fim de que as gerações futuras também conheçam o Senhor e a Sua salvação. Ou seja, a ação missional da igreja deve ser contínua e ininterrupta, pois sempre haverá novas gerações a serem alcançadas. Precisamos ter em mente que a atual configuração do cenário religioso no Brasil não será o mesmo daqui a 100 anos, por exemplo. Quem nos garante se não haverá a necessidade de uma nova onda missionária vinda de fora para alcançar futuras gerações de brasileiros? Nossa oração é que isso não aconteça, mas não podemos “baixar a guarda”. Pelo contrário, precisamos manter o alvo de sermos uma igreja continuamente missional, gerando crentes e famílias de crentes que pensam, oram e se envolvem todo tempo com a obra missionária.